“Mais mole que manteiga” – da realidade à utopia na sátira política medieval galego-portuguesa

Doutor(a):

Marleine Paula

Marcondes e Ferreira de Toledo

Título:

“Mais mole que manteiga” – da realidade à utopia na sátira política medieval galego-portuguesa

Director(a):

Xosé Bieito Arias Freixedo (UVIGO)

Resumo:

MAIS MOLE QUE MANTEIGA (da realidade à utopia na sátira política medieval galego-portuguesa) Tavani (Repertorio metrico della lirica galego-portoghese) classifica vinte e três cantigas do cancioneiro de burlas da literatura medieval galego-portuguesa como sirventeses políticos. Sirventeses, por serem composições satíricas que seguem o modelo do sirventès ou serventois provençal. Políticos, porque seu temário diz respeito à atividade política. A pesquisa mostra que o repertório é mais extenso do que o apontado por Tavani. No contexto dessas sátiras, além de outras questões, estão principalmente dois fatos da História peninsular, na Idade Média: a luta contra os mouros e a guerra civil em Portugal, que culminou na deposição de D. Sancho II, substituído por seu irmão, D. Afonso III, o Conde de Bolonha. O quadro que essas composições satíricas apresentam, de medo, traição, ingerência, ganância, contrapõe-se frontalmente aos ideais do tempo, presentes em toda a produção géstica mais ou menos coeva, exemplificada no Poema do Cid e na presumível gesta de D. Afonso Henriques. Isso faz do sirventês político um discurso contestatório. O panorama configurado por tais cantigas parece próximo do real, se levarmos em conta textos históricos apoiados em farta documentação da época. Por outro lado, historiadores citam a sátira política como fonte para esclarecer alguns pontos obscuros na historiografia oficial, ou para corroborar certas posições ideológicas. Esse fato autoriza qualificar o sirventês político como um discurso documental. A intenção dos satiristas é também fortemente conativa. Apresentam os vícios e defeitos da práxis política, porque têm em vista as virtudes contrárias. Esse raciocínio leva a tratar o sirventês político como um discurso persuasório pelo avesso, que usa amplamente os processos retóricos nesta direção. Sendo um discurso persuasório, o sirventês político tem em mira uma utopia, que, em vista da ambiguidade imanente a toda espécie satírica, pode encaminhar-se para dois sentidos bem diferentes. Sem muitos questionamentos, as cantigas acenam, num jogo de contrários, para a utopia “oficial”, de recuperação dos valores da época: pátria, monarquia, nobreza, religião, virtudes cavaleirescas e viris. Indo, porém, mais a fundo, a visão niilista da realidade que decorre delas em bloco pode acenar para uma sociedade alternativa, em que o poder político seria substituído pelo poder moral. Nesse sentido, as sátiras políticas apontam para uma utopia radical, de tabula rasa da sociedade de então, a fim de restaurar uma espécie de beatitude paradisíaca, como permite inferir o complexo mítico – herético – cristão, que compunha o referencial sagrado da Idade Média. Data da defesa: 19/09/2018 Acceso: https://www.investigo.biblioteca.uvigo.es/xmlui/handle/11093/1064

Entrada no programa:

2013-2014

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